Sub-produto das doiduras do Trump: produtores de vinho da Europa estão mirando o mercado brasileiro

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Por Rogerio Ruschel

Prezado leitor ou leitora, In Vino Viajas vem alertando há vários anos sobre a falta de ativação mercadológica próativa dos vinhos brasileiros e as consequências com o Acordo Mercosul União Europeia que pende sobre nossas cabeças como a Espada de Dâmocles.

Pois reitero: o Acordo entre a União Europeia e o Mercosul, turbinado pelas decisões de sobretaxar produtos do Presidente Trump, vai abrir novas oportunidades (ou necessidades?) para produtores de vinho europeus – o que obviamente vai gerar mobilizações de contra-ataque de produtores brasileiros, argentinos e chilenos. O ministro da Agricultura, Pesca e Alimentação Espanha, Luis Planas, afirmou esta semana em importante evento em Madrid que o setor vitivinícola espanhol tem “uma oportunidade significativa com a entrada em vigor do acordo entre a União Europeia e o Mercosul”.

Com todas as letras, ele informou que “A eliminação de tarifas facilitará o acesso a um mercado de 268 milhões de habitantes e fortalecerá a projeção internacional”. Como o mercado brasileiro é o maior e mais interessante da América Latina, e com o acordo do Mercosul as vantagens dos vinhos argentinos e chilenos devem ser reduzidas, o Ministro espanhol incluiu o Brasil como prioritário em uma reportagem da revista digital Vinetur, da qual sou leitor e colunista sobre vinhos do Brasil desde 2016 – veja aqui: https://www.invinoviajas.com/10382-2/

Isto é significativo porque a Espanha praticamente havia abandonado o mercado brasileiro e agora vai precisar investir muito para recuperar perdas – e só para lembrar, recentemente o governo espanhol decidiu investir mais de 60 milhões de Reais em “retomada de mercados para a indústria vitivinicola”, o que eu traduzo como “preparem-se consumidores brasileiros!” E relembro que isto foi dito por Carlos Cabral, ex-diretor do setor de vinhos do Grupo Pão de Açúcar e então o maior comprador de vinhos do Brasil, em uma entrevista exclusiva para In Vino Viajas e Revista Vinetur, em 2018: “A Espanha abandonou o mercado brasileiro” – leia aqui: https://www.invinoviajas.com/revelacoes-de-carlos-cabral/

Em Portugal a percepção é absolutamente a mesma. Recentemente publiquei uma entrevista exclusiva com Sofia Soares Franco, uma das herdeiras na sétima geração da família proprietária da vinícola portuguesa José Maria da Fonseca – JMF fundada em 1850 e presente no mercado brasileiro desde o século XIX. A José Maria da Fonseca é proprietária de 60 marcas, entre as quais Periquita, considerado o primeiro vinho tinto engarrafado em Portugal, produzido com uvas Castelão inicialmente na Cova da Periquita, em Azeitão, na Peninsula de Setubal, e de lá para o mundo.

Sofia Franco, Diretora de Comunicação Institucional e Enoturismo, me disse que “O mercado brasileiro sempre foi e continuará a ser um mercado estratégico e de enorme relevância para a José Maria da Fonseca. É um mercado que tem um enorme carinho pelos vinhos portugueses e valoriza os mesmos pela sua história e qualidade. A José Maria da Fonseca tem uma presença no mercado brasileiro já desde o séc. XIX tendo tido mesmo uma delegação comercial no Rio de Janeiro que durou até aos anos 30 do séc. XX. O Periquita é uma das marcas com maior notoriedade e relevância no mercado, sendo o Brasil um dos maiores mercados do mundo para consumo deste vinho. Atualmente compete com a Suécia pelo primeiro lugar dos nossos principais mercados de exportação.”

E perguntada a respeito das sobretaxas dos Estados Unidos, completou: “O mercado dos EUA tem bastante importância para a José Maria da Fonseca. Neste momento não há muito a fazer para diminuir os impactos das tarifas, sendo que a China é um mercado em decréscimo. O mercado que poderia servir de alguma compensação seria o Brasil, caso o acordo com o Mercosul pudesse ser acelerado.” Veja aqui: https://www.invinoviajas.com/herdeira-da-marca-periquita/

Não li nada de produtores franceses ou italianos, que estão no primeiro time de produtores globais em volume e qualidade. Mas tenho certeza de que enquanto for mais dificil vender para os norte-americanos, todos buscarão vender para mercados potenciais como o brasileiro. E muitos brasileiros, nós sabemos, compram vinhos por impulso e pagam caro qualquer marca estrangeira apenas por ser estrangeira. Mesmo tendo excelentes vinhos basileiros à venda aqui mesmo.

Em resumo: alô produtores brasileiros, preparai-vos. Do nordeste, São Paulo, Minas Gerais, de todo o país, inclusive muitos do Rio Grande do Sul, que embora seja o maior produtor, é também um dos polos produtores que reúne mais produtores acomodados, satisfeitos com o que produzem e vendem.

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