Vinho com 8.000 anos é descoberto em cavernas vulcânicas da Sicilia, envolvendo magia, histórias de sedução e personagens da mitologia grega

Tempo de leitura: 3 minutos

Por Rogerio Ruschel

Meu prezado leitor ou leitora, o vinho é mesmo a bebida mais prestigiada pela Humanidade – e aqui tem mais uma demonstração disso: arqueólogos encontraram restos de vinhos datados de 8.000 anos nas fumegantes entranhas do Monte Kronio, na Sicília (veja foto acima). E uma série de mitos e lendas gregas estão mergulhadas nesta descoberta.

Estive na Sicília e conheci a região (na foto abaixo estou na frente do Templo da Concórdia, no Vale dos Templos) mas não visitei o Monte Kronio (foto abaixo) que se eleva 400 metros acima da paisagem geotérmica ativa na região de Agrigento, sudoeste da Sicília. Em suas entranhas borbulha um sistema labiríntico de cavernas, cheio de vapores sulfúricos com uma temperatura média de 32 graus Celsius e 100 por cento de humidade. Nestas condições e respirando ácidos venenosos, um ser humano não duraria muito tempo porque o suor não consegue evaporar e o choque de calor pode provocar a morte em menos de 20 minutos.

Uma destas cavernas é conhecida como o “Fogão de San Calogero” em Sciacca, e em seu interior a temperatura varia entre 36 e 42 ° C, dependendo da estação e hora do dia. Segundo lendas locais baseadas em supostas pistas da mitologia grega, a caverna foi criada por Dédalo. Dédalo foi um artesão grego, pai de Ícaro (aquele maluco que tentou sair de Creta voando, mas derreteu as asas perto do sol) e que, conforme a Odisseia do escritor Homero, foi o criador do Labirinto de Creta (foto abaixo) para o rei Minos, no qual o monstro Minotauro degustava jovens cretenses e que foi abatido pelo herói ateniense Teseu, com a ajuda do fio de Ariadne.

Aliás as lendas dizem que Dédalo foi também o criador de um quarto muito especial para os divertimentos eróticos – sempre com muito vinho – de Pasifae, a esposa de Minos; o que se sabe com certeza é que Dédalo fugiu do rei Minos – provavelmente porque ajudava as aventuras e bebedeiras da mulher dele – e foi morar em Agrigento protegido pelo rei Cócalo e talvez tenha sido o construtor de algum dos templos do Vale dos Templos, como o da Concórdia – foto abaixo.Tudo mitologia, certo? Sei não… Como a base da cultura é sempre a mitologia, é bom prestar atenção nos detalhes. Em 2012 arqueólogos encontraram (e posteriormente fizeram datação de carbono para comprovar) nas cavernas do Monte Kronio restos de vinhos datados de 8.000 anos! No local foram encontrados resquícios de embarcações da Idade do Cobre, várias jarras de cerâmica, jarros grandes e bacias. E nas cavidades mais profundas da montanha foram encontrados jarros com resquícios de esqueletos humanos! Aí o bicho pegou. Os arqueólogos se perguntaram: o que teria de tão precioso nestes jarros que fazria chefes e guerreiros morrerem nesta viagem ao submundo da montanha sulfúrica? Eles rasparam as paredes internas de cinco vasos de cerâmica, reuniram cerca de 100 mg desses artefatos antigos, e o resultado foi surpreendente: era vinho. Na foto abaixo duas fotos que fiz em minhas andanças sicilianas: ladrilhos gregos antigos com temas romanos encontrados na região central da ilha e um exuberante “carrocino de Agrigento”.

Pois é, meu caro leitor ou leitora. O vinho tem sido percebido como uma substância mágica desde que começou a ser citado em contos e lendas gregas, vikings e romanas, em épicos homéricos, em lendas documentadas por várias civilizações, e até mesmo em documentos religiosos, como a Bíblia Sagrada. O vinho é vermelho como o sangue, sempre teve o poder de trazer euforia e um estado alterado de consciência e percepção das pessoas. Misturado com o incrível estresse físico devido ao ambiente quente e húmido das cavernas, pode-se supor que a descida na escuridão sulfúrica do Monte Kronio seria uma viagem transcendental para os homenagear determinados deuses! Ainda bem que hoje em dia não precisamos correr tantos riscos, basta ir até uma loja ou adega…

Para saber mais sobre a Sicilia, digite “Sicilia” no espaço da lupa, acima e a direita deste blogue.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *