Com megabiodiversidade e pesquisa de ponta, Brasil vai registrar 35.000 espécies de cultivares

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Por Rogerio Ruschel

Meu prezado leitor ou leitora em aulas, palestras ou artigos sempre afirmo que produtos locais tem uma identidade própria, relacionada com sua Origem, e produtos globais são párias, não tem identidade própria, apenas uma marca (brand) do produtor, que pode ser trocada a qualquer momento. Isso é uma percepção não científica, de mercado, que apresento no meu livro “O valor global do produto local – A identidade territorial como estratégia de marketing” (ed. Senac).

Pois agora tenho uma comprovação científica disso, ao verificar como são registradas formamente nossas variedades agrícolas; veja a seguir.

Recentemente amigos portugueses da área de Indicações Geográficas me informaram que Portugal tem mais de 1.000 denominações de espécies agrícolas e hortícolas registradas em um Catálogo Nacional de Variedades, com destaque para o tomate que conta mais de 230 espécies, seguido pelo milho, com 141 espécies.

Sei que o bioma predominante em Portugal é a Floresta Temperada de Folha Caduca, mas também se pode encontrar o Estepe ou Chaparral. A vegetação de Portugal é uma mistura de espécies atlânticas, europeias e mediterrâneas, variando muito de acordo com a região em que se desenvolvem.

Fiquei curioso para saber (e informar meus leitores do Brasil e da Europa, que apreciam informação de qualidade) quantas espécies registradas temos no Brasil, porque afinal todo mundo diz que somos o país com maior biodiversidade do mundo. Entrei em contato com Gislene Alencar, jornalistado Núcleo de Comunicação Organizacional da Embrapa Hortaliças, uma das unidades da nossa Embrapa, a gloriosa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, campeã em pesquisas de alta complexidade.

Ela me enviou um link para o Registro Nacional de Cultivares (CultivarWeb) do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e na sequência troquei mensagens com a assessoria de imprensa do MAPA para ter informaçõs mais detalhadas. Faço um resumo do que importa:

  • Desde 1997 o Brasil tem um Registro Nacional de Cultivares – RNC e os documenta no Cadastro Nacional de Cultivares Registradas – CNCR que atualmente tem 34.925 registros. Isso mesmo: 34.925 registros, chegando aos 35.000 em mao/2024!!! Cada registro é de um cultivar específico, é único, não havendo registros duplicados. O RNC é de responsabilidade da Coordenação Geral de Sementes e Mudas, do Departamento de Sanidade e Insumos Agrícolas, da Secretaria de Defesa Agropecuária (CGSM/DSV/SDA/Mapa).
  • O Cadastro Nacional de Cultivares Registradas – CNCR é único também, cabendo ao MAPA, por meio dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários, as análises das solicitações de registro e a habilitação das cultivares e espécies à produção e comercialização em todo o território nacional.
  • Neste cadastro (disponível na internet,veja ao final desta matéria) constam várias informações incluindo dados científicos, técnicos e de propriedade industrial, como um nome comum, um nome próprio, quem registrou e quando.  As 34.903 espécies são registradas em categorias como de grandes culturas (como milho, trigo, sorgo, soja, arroz), frutíferas, ornamentais, olerícolas (como repolho), forrageiras e florestais e são registradas como espécie, cutivar, hibrido simples progenitor, linhagem parental ou exclusivo para exportação.
  • Não sei quantos registros de tomates ou de milhos temos no Brasil, porque teria que contar individualmente em uma planilha de Excell com dezenas de páginas; quando cheguei a 200 espécies de milhos eu desisti…

Como não sou especialista em agricultura vou destacar apenas um dado interessante: de maneira geral as espécies de exportação (as commodities como soja, sorgo, milho) não tem um nome, vamos dizer assim, “familiar”, e sim, uma sigla como GSGNO38, que é o “nome” de uma espécie de milho.

Quer dizer: produtos globais nascem sem uma identidade, são registrados sem um nome, são apenas um número sem nenhuma precepção de valor, de pertencimento comunitário. Como tenho afirmado sempre, com uma percepção de professor de marketing, mas que agora se confirma pela vida real. Vivam os produtos locais, que podem se tornar globais com inteligência de mercado e investimento.

Acesse o Registro Nacional de Cultivares aqui: https://sistemas.agricultura.gov.br/snpc/cultivarweb/cultivares_registradas.php

Fonte: MAPA: SRNC/CGSM/DSV/SDA/MAPA

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