Conheça o CEPAVIN, criado para ajudar a preservar a memória e o patrimônio cultural das comunidades e territórios do vinho no Brasil

Tempo de leitura: 5 minutos

Por Rogerio Ruschel (editor) e Vander Valduga (texto)

EXCLUSIVO – Meu caro leitor ou leitora, tenho uma boa noticia: a criação do Cepavin,  um centro de pesquisas no Rio Grande do Sul que vai aumentar as chances de preservarmos a identidade de nossas comunidades do vinho. Praticada há cerca de 6.000 anos, além da importância econômica da atividade, a cultura do vinho tem alta relevância por causa dos patrimônios histórico, artístico, paisagístico, social e arquitetônico específicos das comunidades e de suas identidades exclusivas. Na foto acima, uma foto que fiz na Vila Fitarelli, um projeto privado de preservação cultural no Vale dos Vinhedos, Garibaldi-RS. O valor destes patrimônios é incalculável, razão pela qual muitas destas comunidades já conquistaram o reconhecimento como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

O Cepavin – Centro do Patrimônio e Cultura Do Vinho, instalado no Núcleo de Estudos Agrários do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, foi criado para isso. Convidei um dos idealizadores, o professor Vander Valduga, a apresentá-lo para os leitores de In VIno Viajas. Com a palavra, o Prof. Valduga, que está na foto abaixo, ao lado da Professora Rosa Maria Vieira Medeiros, pesquisadora da UFRGS.

“Na maioria dos países vinícolas, o patrimônio do vinho é amplamente valorizado e subsidia as ações em diversos âmbitos culturais, como por exemplo, nas paisagens vitícolas, muitas delas Patrimônio Mundial da UNESCO. O Brasil engatinha no que se refere a estudos nessa área, com poucos trabalhos, carentes de fontes, muitas vezes realizados sem o compromisso futuro com a vitivinicultura e sua memória. Além disso, quem estuda a história da vitivinicultura reconhece que os gargalos são recorrentes no país, isto é, os problemas do final do século XIX como a alta carga tributária, isenção tributária ou vantagens à importação ainda são os mesmos.

Ao mesmo tempo, a pesquisa em vitivinicultura é concentrada em áreas técnicas da viticultura e da enologia. Sem desmerecer esse universo e reconhecendo sua importância, existe outra gama ampla de elementos que clamam por pesquisas como a cultura e o consumo do vinho, a gestão vitivinícola, o marketing, o comportamento do consumidor de vinhos no país, o enoturismo, as paisagens, entre outras.

Com essas preocupações, o Cepavin foi arquitetado a partir do I Colóquio Internacional Vinho, Patrimônio, Turismo e Desenvolvimento, realizado em Florianópolis em 2013 com a participação de representantes da Chaire UNESCO Culture et Traditions du Vin, do ICOMOS – Conselho Mundial de Sítios e Patrimônios Históricos da UNESCO, da Chaire UNESCO «Cultura, Turismo, Desenvolvimento» Universidade Paris 1 Panthéon Sorbonne, da Universidade Federal do Paraná e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Um dos resultados do evento foi a criação do Cepavin, dia 28 de abril de 2017, lançado efetivamente durante o I Workshop Vinho e Patrimônio, em Porto Alegre. Na foto acima, a mesa de abertura do Workshop.

O Cepavin é a consolidação de diversos projetos já desenvolvidos pela UFRGS em parceria com a Chaire UNESCO Cultura et Traditions du Vin, com destaque aos seguintes: “A paisagem como representação espacial: a paisagem vitícola como símbolo das indicações geográficas de vinhos Vale dos Vinhedos, Pinto Bandeira e Monte Belo (Brasil)” de Ivanira Falcade; “Raízes do Turismo no Território do Vinho: Bento Gonçalves e Garibaldi – 1870 a 1960 (RS/Brasil) ” de Vander Valduga e a “Vitivinicultura sustentável no contexto brasileiro: uma proposta de abordagem” de Shana Sabbado Flores. Todos esses trabalhos são públicos e estão disponíveis em http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/1.

A sede do Cepavin fica no Departamento de Geografia da UFRGS, no Campus do Vale, em Porto Alegre e é vinculado ao Núcleo de Estudos Agrários. Entre suas ações para o futuro da vitivinicultura brasileira estão a complementação do acervo e salvaguarda da memória do vinho brasileiro; publicações específicas sobre os patrimônios das regiões vinícolas; estudo e patrimonialização das paisagens vitícolas com o desenvolvimento de metodologias específicas; formação superior e de pós-graduação na área; estudos de mercado do vinho, de gestão vitivinícola e enoturismo; ampliação do universo da pesquisa enogastronômica e da cultura agroalimentar das regiões vinícolas brasileiras, entre outros. Espera-se poder formar um acervo amplo e consistente para que as futuras gerações conheçam a memória do vinho no Brasil e solucionem problemas históricos desse setor importante da cultura e da economia do país.

O I Workshop Vinho e Patrimônio, no qual foi apresentado formalmente o CEPAVIN teve a participação de diversas universidades, entidades da vitivinicultura, produtores e interessados nos temas, que relataram suas experiências na vitivinicultura e na preservação da memória do vinho no país. Saiba mais em http://neagufrgs.wixsite.com/patrimoniovinho/programacao

A Conferência de abertura foi ministrada pelo professor espanhol Dr. Luis Vicente Elias Pastor, consultor internacional na área de paisagem e patrimônio vitícola, co-autor, em parceria com o brasileiro Rinaldo Dal Pizzol do livro ‘Paisagens do Vinhedo Rio-Grandense’ (foto abaixo) que recebeu o Prêmio OIV Júri na categoria Vinhos e Territórios, da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), no fim de maio. No evento foi lançado o livro digital “A Uva e o Vinho como Expressões da Cultura, Patrimônio e Território”, disponível em (http://neagufrgs.wixsite.com/neag/not-cias).

Brindo aos pesquisadores e desejo muito suecesso ao Cepavin – Centro do Patrimônio e Cultura Do Vinho.

Rogerio Ruschel é repórter e editor de In Vino Viajas, baseado em São Paulo, Brasil.

2 Comentários


  1. Parabéns a todos. Fico orgulhoso de um povo lembrar do passado bebendo um bom vinho de Bento.

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    1. Espero que seja sempre assim, respeitando o passado para projetar o futuro. Abraços, Rogerio

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