José Peñin, o criador do Guia Peñin, responde: estão as vinicolas preparadas para receber grupos de visitantes corporativos?

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Por José Peñín, fundador do Guía Peñín; editado por Rogerio Ruschel

Meu caro leitor ou leitora, José Peñin, uma lenda viva da vitivinicultura espanhola e mundial, é um pioneiro de grande respeito. Em 1975, com 32 anos, comprou um Land Rover e começou a percorrer as vinícolas da Espanha. Foi o primeiro a criar um lagar, o primeiro a criar um clube de vinhos, o primeiro a fazer um guia de vinícolas e também o primeiro a avaliar vinhos e colocá-los em um guia. Algumas pessoas dizem que mais de um milhão de rótulos já passaram por seu nariz.

Atualmente o Guia Peñín tem uma equipe reconhecida de especialistas que avaliam cerca de 11.000 vinhos por ano e publicam os resultados em espanhol, inglês, francês e alemão. O guia é um dos mais importantes do mundo e tem sido utilizado como uma alavanca estratégica para a Espanha conquistar e manter seu lugar entre os três maiores países produtores e exportadores de vinhos do mundo.

Em setembro de 2017 José Peñin, nascido em 1943 em Santa Colomba de la Vega, La Bañeza, León, e apreciador das uvas prieto picudo e mencía, da região de sua infância, escreveu um artigo sobre mais um tema inovador, a organização de roteiros de enoturismo para grupos de empresas. Como sabemos, hoje em dia o perfil de mais de 90% dos visitantes em vinícolas em qualquer pais do mundo são casais ou grupos de amigos. In Vino Viajas é o primeiro veiculo de comunicação do Brasil a discutir este assunto ao publicar este artigo de Peñin, porque acredito que no Brasil temos que olhar para o futuro para crescer – e não ficar estacionados fazendo avaliações do passado. O artigo de Peñin foi publicado em jornais espanhóis de negócios e vinicultura e também no site da Associação Espanhola de Enoturismo e ajuda a entender porque Peñin é um líder, e porque a Espanha pensa na frente. Com a palavra, o Mestre José Peñin.

“Ontem à noite fui ao jantar de boas vindas convidado pela GEBTA (o grupo mais importante da Espanha na organização de viagens de negócios) para inaugurar sua convenção sobre turismo. Naquele jantar, eles me pediram para dizer algumas palavras sobre as possibilidades do setor vitivinícola como um destino para o turismo de negócios. Entre outras questões, perguntaram-me se este setor estava preparado para receber grupos corporativos.

“Nos anos 70 fiz a primeira viagem com fãs de vinhos de forma mais ou menos organizada para visitar vinícolas.”

Por que me perguntaram? Para aqueles que não conhecem o lado oculto da minha história, quero esclarecer que eu organizei uma viagem deste tipo nos anos 70 para um grupo de parceiros da Seleção Wine Club, que havia fundado alguns anos antes. Foi a primeira viagem com fãs de vinhos de forma mais ou menos organizada para visitar vinícolas. Fomos para a Borgonha e deixamos a imprensa local curiosa a respeito do lado exótico de ver espanhóis, que na época vivivam no segundo mundo, visitando o mundo hermético de vinho da Borgonha. Eu mesmo duvidava que essa experiência de ir à vinícola fosse atraente para meus viajantes. Não é como ir a uma fábrica?

Eu sempre tive a sensação de que, se gostamos da profissão, é porque é parte do nosso trabalho. No entanto, o que foi descoberto nos últimos anos é uma certa fadiga do estereótipo das férias nas praias e nos museus. Isso permitiu que o turismo interior crescesse consideravelmente e, portanto, a vinícola estivesse no centro do palco. No entanto, o setor de turismo, pelo que vi nesta convenção GEBTA, não depende muito da mentalização das vinícolas para serem etapas de uma rota turística. E até agora, esse pensamento tem feito sentido.

A verdade é que nos últimos anos a evolução e a mentalização do setor em relação ao enoturismo mudaram radicalmente. Sim, passamos de uma absoluta falta de interesse sobre este assunto apenas 10 anos atrás, para montar uma tremenda onda baseada em hotéis enoturísticos, spas, salas de degustação, museus e lojas de compras. Por essa razão, questões muito interessantes surgiram. Uma delas é: o setor está preparado para receber viagens de negócios nas vinícolas?

Não estava, mas agora está. Porque neste setor existem apenas dois modelos de vinícolas inacessíveis: a primeira é a Vega Sicilia, que não aceita visitantes; o segundo é a vinícola artesanal da família, que funciona com foco no campo e na elaboração, e não no atendimento ao cliente. No geral, a indústria está preparada para avaliar como empresas estão aprendendo com experiências tão importante como as do vinho e do enoturismo em Napa Valley (EUA), Mendoza (Argentina), Stellenbosch (África do Sul) … Lugares onde o turismo enológico tem feito enorme sucesso e continua a faturar para as vinícolas entre 20 e 30 por cento de sua receita.

 “O turismo de vinhos é uma das melhores abordagens que tem sido capaz de beneficiar o setor.”

Em geral, o que está claro é que o turismo de vinhos – eu gosto mais da expressão agroturismo, como dizem os italianos – é uma das melhores abordagens que tem sido capaz de beneficiar o setor. Na verdade, no próximo fórum do Porto, onde eu vou palestrar, o tema da comida e vinho como pólos de atração para o turismo. E, no final, essa abordagem responde à antiga necessidade do viajante de fim de semana de descobrir os cantos gastronômicos de baixo preço (o custo aumenta, já que geralmente é acompanhado por toda a família) e pequenos artesãos de vinho.

Delicado que eles só vendem “in situ”. Então, quando chega a segunda-feira, muitos deles podem se gabar de ter descoberto tal queijo ou mel. Uma tendência que tem gerado alguns problemas, como a Abadia Retuerta que acabamos de mencionar no seu catálogo enoturístico o famoso título do “Golden Mile”, referindo-se a Rota do Vinho de Ribera del Duero, ele tem causou uma queixa por um oportunista que estava preparado para registrar a frase usual. Como se a famosa milha de Marbella ou Beverly Hills nunca tivesse sido mencionada.”

Peñin sempre teve independência intelectual, e se tornou um gigante formador de opinião e de mercados sem depender de favores de vinícolas. Veja acima ele recomendando comprar um vinho simples que não tem permissão para identifcar sua DO, em uma embalagem “pobre” bag in box, de beira de estrada: quantos sommeliers que se julgam importantes você conhece que recomendariam em seu próprio blogue um “pecado” assim tão grande? Outra prova: certa vez perguntado sobre qual o vinho que mais o emociona neste momento (2017), o homem que pode degustar qualquer vinho, de qualquer época e de qualquer valor, e que já degustou mais de um milhão de vinhos, respondeu categóricamente: “Os vinhos de aldeia, os locais, aqueles que ainda existem, são produzidos e bebidos em áreas rurais. O vinho apresenta a identidade e a vontade de quem faz. É como voltar ao começo.”

Brindo a José Peñin por sua percepção, dedicação e coragem.

Fonte: https://www.enoturismodeespaña.es/web/newsDetails.php?id_section=710&id=51

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