Tempranillos, castelos, museus e moinhos de vento: delícias e aventuras nos Caminos Del Vino em Castilla-La Mancha, Espanha

Tempo de leitura: 6 minutos

 

Por Rogerio Ruschel (*)
Como sou seu amigo, vou sugerir uma coisa: se um dia você tiver a oportunidade de visitar Castilla-La Mancha, liberte o Don Quixote que tem dentro de você. Castilla-La Mancha – a terra de Don Quixote e seu escudeiro Sancho Pança, abaixo – parece que só revela integralmente seu imenso patrimônio cultural, riqueza popular e paisagens se você tiver a coragem de passar um tempinho meio “sem rumo”, se você for um quixotesco sonhador.

 

Cenas inesquecíveis vão surpreender você, como vêm surpreendendo os Sanchos Panças desde que este “nasceu” com Quixote em 1605, pela caneta de Miguel de Cervantes, tais como um por-de-sol inesquecível com moinhos de vento na cidade de Mota del Cuervo, Provincia de Cuenca (foto bem acima) ou na chegada à pequena cidade de Bogarra (foto abaixo – e acredite: sem retoques!) na Provincia de Albacete, que tem 1.009 moradores e forte influência árabe.

 

Como se isso não fosse suficiente, Castilla-La Mancha é o território que tem o maior plantio de uvas do mundo, com cerca de 200.000 hectares de vinhedos. A região é responsável por uma produção média anual de 21 milhões de hectolitros de vinho, cerca de 53% da produção espanhola de vinhos. Na verdade a região é o celeiro agrícola da Espanha – é também a maior produtora de cevada, trigo e outros produtos espanhóis. Neste ambiente você poderá encontrar cenas belissimas como esta curva de estrada, abaixo, perto da comunidade de Maldonado Jorquera, com apenas 450 moradores, também na Provincia de Albacete.

 

Estes 200.000 hectares de vinhedos estão na região central da Espanha e da Peninsula Ibérica distribuídos entre as Provincias de Albacete, Ciudad Real, Cuenca, Guadalajara e Toledo. Todo este vinho está organizado em nove Denominações de Origem (D.O. – Valdepeñas, Méntrida, La Mancha, Manchuela, Jumilla, Mondéjar, Uclés, Ribera del Júcar y Almansa), uma Indicação Geográfica Protegida (I.G.P. – Vinos de la Tierra de Castilla) e uma marca colectiva (Cueva). Veja esta região bem no centro do mapa abaixo, perto de Madrid.
Além das nove D.O.s e da I.G.P. existem oito parcelas vinícolas – em espanhol “pagos”. Explico: a legislação espanhola permite que o nome de um “pago vitícola”, que é a relação da finca (a parte agrícola) com a bodega (a parte industrial) seja considerada uma D.O. se forem respeitadas determinadas condições, entre as quais um alto grau de qualidade. De qualquer maneira, com ou sem certificação de origem, os parreiras convivem com paisagens belíssimas, como mostra esta foto primaveril de Las Pedroñeras, em Cuenca.

 

Os vinhos são produzidos há milhares de anos com uvas regionais, mas também com variedades internacionais; as castas aceitas pela D.O. La Mancha, por exemplo, são a Tempranillo (ou Cenibell), Garnacha e Moravia e as clássicas Cabernet Sauvignon, Merlot e Suyrah (tintas) e Airén e Macabeo com Chardonnay e Sauvignon Blanc entre as uvas brancas. Já para a D.O. Valdepeñas são aceitas também as uvas Verdejo, Moscatel e Petir Verdot, e para a D.O. Manchuela são aceitas também uvas regionais como Bobal, Monastrell, Moravia Dulce e Albillo. (Abaixo, o Parque Arqueológico de Segóbriga Saelices, em Cuenca, considerada uma das cidades romanas mais bem conservadas da Espanha).

 

Toledo é a capital de Castilla-La Mancha e é também talvez a mais turística; chamada de cidade das tres culturas pela coexistência de patrimônio arquitetônico de judeus, cristãos e muçulmanos, foi declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO en 1986.

 

Outra cidade histórica que também é Patrimônio da Humanidade (desde 1996) é a fortificada Cuenca, construída pelos mouros para defender o território do Califado de Córdoba.

 

Por estas e outras razões, a região de Castilla-La Mancha recebe muitos visitantes: em 2010 foram mais de 11,4 milhões de turistas, dos quais cerca de 2 milhões eram estrangeiros. Destes turistas 63,5% são atraidos por Turismo Patrimonial e Cultural, 50,5% por Turismo de Natureza e Rural e cerca de 37,6% tem como foco principal o Turismo Enogastronômico. Existem duas grandes Rotas de Vinho, formadas por muitas outras: a Rota “Caminos del Vino” e a “Rota de Jumilla”, que adentra também a região da Múrcia. O mosteiro de Uclés, apelidado de “El Escorial de la Mancha” (abaixo), é uma das atrações da região.

 

A Rota Caminos del Vinoinclui centenas de bodegas em oito comunidades (Alcázar de San Juan – local onde foi tirada a foto noturna dos moinhos de vento, abaixo – Pedro Muñoz, Socuéllamos, Tomelloso, Villarrobledo, Campo de Criptana, El Toboso e San Clemente). A Rota e a região tem cultura vitivinícola de milhares de anos e um patrimonio artístico e paisagístico com identidade própria: longos campos que parecem não ter fim, cobertos por vinhedos e outros plantios agricolas, ponteado por alguns bosques e parques naturais. A outra rota de vinhos, a “Rota de Jumilla” fica a noroeste da região de Múrcia, encravada entre la Mancha, Andalucía e Valencia.

 

Embora o grande movimento turístico espanhol (e europeu, de maneira geral) seja no verão (junho/julho/agosto) e o maior movimento do turismo relacionado ao vinho aconteça durante a vindima (setembro/outubro), monumentos e atrações turisticas estão disponíveis o ano inteiro. Entre os museus, por exemplo, você pode visitar o Museu do Vino de Valdepeñas, único deste tipo em Castilla-La Mancha; o Museu da Cuchillería, em Albacete; o Museu López Villaseñor em Ciudad Real; prédios com forte herança árabe em Guadalajara e Cuenca e quase que uma cidade inteira em Toledo, com destaque para as colossais igrejas, o Museo de Santa Cruz, o Museu Nacional de Arte Hispanojudío y Sefardí e o Museo del Greco. Para encerrar, abaixo uma foto do Parque Nacional de las Tablas, em Ciudad Real.

 

Pois é: visto isso proponho um brinde à liberdade do sonhador Don Quixote que está dentro de você. E de mim.
(*) Rogerio Ruschel é jornalista e enófilo e já soltou seu Don Quixote em Toledo e em uma parte de Castilla-La Mancha. As fotos foram obtidas em serviços de divulgação de órgãos espanhóis oficiais.

 

 

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