O valor agregado pela Identidade Geográfica aos vinhos da Peninsula de Setubal, Portugal

Tempo de leitura: 4 minutos

Por Rogerio Ruschel

Meu prezado leitor ou leitora, a Península de Setubal é uma região vitivinícola de Portugal pequena (oito mil hectares, cerca de 4% da área dos vinhedos do país), mas com grande agregação de valor porque certifica 85% dos vinhos que produz, o que é bastante significativo. Fica bem próxima da região de Lisboa – basta atravessar a ponte 25 de Abril. Além de excelentes vinhos brancos, tintos e rosés, a região é produtora dos expcepcionais vinhos licorosos Moscatel de Setúbal (a principal DO da região e a segunda mais antiga de Portugal, demarcada em 1908) e Moscatel Roxo (também DO).

Conheci a região quando fui a Beja para ser jurado de um concurso de vinhos, em 2018, em companhia dos jornalistas Jószsef Kosárika, da Hungria e Otto Blatzer, da Áustria, tendo como guia Henrique Soares, presidente da Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal (CVRPS) e também, naquele ano, presidente do Conselho de Turismo da região. A Peninsula de Setúbal, limitada ao norte com o estuário do rio Tejo (e do outro lado do rio com a Grande Lisboa), com o Oceano Altântico (e a Serra da Arrábida) e com o Alentejo, é também um local diferenciado para fazer turismo que vai além dos vinhos e da gastronomia. Essa dupla função do Henrique Soares mostra como vinhos e turismo são irmãos gêmeos no desenvolvimento ecnonômico local em países desenvolvidos que reconhecem que sua força está nos seus patrimônios.

Pois os vinhos da Península de Setúbal registraram aumento de 6% em volume e 12% em valor durante 2021. Isso em um ano difícil que enfrentou crises de abastecimento de garrafas e papel, incêndios florestais e inflação muito elevada.

Recentemente Henrique Soares anunciou estes resultados e a estratégia para o ano que vem, 2023: subir preços e apostar no Brasil. Segundo Soares, o maior desafio para os produtores da Península de Setúbal é agora a questão do valor: “Precisamos acrescentar cêntimos ao preço médio, valorizar e vender melhor, procurar mercados que valorizem mais os vinhos”. Em relação aos mercados de exportação, a Rússia e a Ucrânia parecem estar fora de jogo. Para compensar, “em linha com os vinhos portugueses, há mercados que têm evoluído muito bem”. “É o caso do Brasil, do Reino Unido e dos mercados da União Europeia, que apesar de tudo acabam por ser mais difíceis, mais maduros, mais concorrentes e sensíveis ao preço”, contextualizou o presidente da CVRPS.

Para atingir estas metas a Comissão Vitivinícola Regional da Península de Setúbal (CVRPS) realiza muitos eventos. No final de outubro aconteceu em São Paulo mais um Encontro dos Vinhos da Península de Setúbal, onde pude degustar quase 40 vinhos de 10 adegas e re-encontrar conhecidos e amigos, com a alegria de voltar a participar de eventos presenciais.

Porque os vinhos da Peninsula estão crescendo em valor? Porque investem na valorização da origem e fazem marketing. Bernardo Gouveia, presidente do Instituto da Vinha e do Vinho, destacou a importância da certificação dos vinhos no mercado: “O presente e o futuro do vinho está em certificar vinhos com Denominação de Origem e Indicação Geográfica. Isto está relacionado com a qualidade da nossa oferta, com a nossa capacidade competitiva de exportar cada vez mais, e sobretudo com o factor de criação de valor, que é essencial”. A região possui as Denominações Palmela (DO) e Peninsula de Setubal (DO) e todos reconhecem seu valor e importância. Em um texto exclusivo do meu livro “O valor global do produto local” (2019, Editora Senac), Henrique Soares escreveu (na página 126 ) que “Fatores geográficos sempre agregam valor aos produtos e serviços, porque, ao mesmo tempo que identificam, também diferenciam, e esses dois atributos são fundamentais em qualquer estratégia de marketing, designadamente o de matriz territorial.”

A região tem vinhos de alta qualidade, premiados miundialmente como os da Cooperativa Agrícola de Santo Isidro de Pegões, sediada em Montijo; da Adega Cooperativa de Palmela; da Casa Ermelinda Freitas, de Fernando Pó, em Palmela – a adega administrada há 4 gerações só por mulheres; a Bacalhôa Vinhos e a José Maria da Fonseca, de Vila Nogueira, de Azeitão, que recentemente emplacou seu Colecção Privada DSF Moscatel Roxo de Setúbal Superior 2001 em primeiro lugar no XXII Concurso de Vinhos da Península de Setubal.

Brindo aos amigos das Peninsula de Setúbal.

Para saber mais: https://www.invinoviajas.com/conheca-a-casa-ermelinda/

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *