Rótulos de vinhos dos anos 60 lembram a herança portuguesa da vinicultura em São Roque, no estado de São Paulo

Tempo de leitura: 5 minutos

 

Por Rogerio Ruschel, editor e Sandro Marcelo Cobello, texto e rótulos

Meu prezado leitor ou leitora, dias destes fui a São Roque, cidade cerca de 60 Km da capital paulista, e fiquei muito impressionado com a grande quantidade de turistas percorrendo o Roteiro do Vinho da região; passeio que vou apresentar aqui para você, em breve. São Roque tem uma diferença de outros polos produtores de vinho do Brasl: a herança é portuguesa e não italiana. Como In Vino Viajas é cultura, convidei um especialista em vinho e turismo para contar um pouco da história de sua cidade natal e ele fez isso recuperando antigos rótulos de vinhos produzidos na cidade durante as décadas de 60 e 70 que estão ilustrando este texto. Entre outras atividades, Sandro Marcelo Cobello foi secretário de turismo de São Roque, é um especialista em alcachofras (outra badalada tradição da região), pesquisa a memória da cidade e está estudando enologia. Perfeito, portanto, para falar com os leitores de In Vino Viajas. Com a palavra, Sandro Cobello.

Na Europa grande parte das cidades tem cultivo de uvas e produção de vinho, mas no Brasil devido a fatores culturais e climáticos, poucos foram os locais onde o cultivo da uva e a produção do vinho se estabeleceram; atualmente não mais do que três dezenas de cidades e regiões do país tem produção vitivinícola comercial permanente. Na foto abaixo um dos patrimônios históricos de São Roque, o Sítio de Santo Antônio, construído em 1681 e que foi doado por seu ultimo proprietário, o escritor modernista Mario de Andrade, ao Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional para preservação.

No estado de São Paulo – a região mais rica do Brasil – os primeiros vinhedos foram cultivados no século XVI na região onde hoje é Santos, na então Capitania de São Vicente; posteriormente na cidade de São Paulo, no bairro do Tatuapé no início da colonização também houve um ciclo de vinhedos, mas entre 1789 e 1808, para evitar uma eventual concorrência, Portugal proibiu a fabricação de vinhos no Brasil-colônia. Porisso somente na segunda metade do século XIX é que o cultivo de uvas e produção de vinho tomou novamente força no estado.

Com a chegada dos imigrantes europeus para a construção da Estrada de Ferro Sorocaba (1875) e da Fábrica Têxtil Brasital (1890), a Estância Turística de São Roque, a 60 km da capital no sentido de Sorocaba, começou a produzir vinhos e nas décadas seguintes se tornou o mais importante produtor de vinho no Estado. Na verdade, segundo historiadores, este seria um resgate da história porque há indícios de que seu fundador, o bandeirante Pedro Vaz de Barros, no ano de 1657 já cultivava videiras e produzia vinho na fazenda que originou a cidade. 

No início do século XX a cidade foi se transformando e todas suas encostas foram sendo tomada por vinhedos; nas décadas de 1950 e 1960 a cidade viveu um período áureo com mais de 150 vinícolas empregando legiões de trabalhadores e uma importante Festa do Vinho que deu destaque nacional àcidade e o título de “Terra do Vinho Paulista” – abaixo o poster da XXII edição da festa.

 

Mas a partir dos anos 80 a especulação imobiliária foi pressionando a região e transformando antigas áreas de vinhedos em sítios e chácaras de paulistanos e paulistas, de forma que a região entrou no século XXI com pouco mais de uma dezena de vinícolas. Abaixo a entrada de duas delas.

 


 

Outro fato pouco divulgado sobre São Roque que começa a ser resgatado, é que seu passado na vitivinicultura tem origem portuguesa e não italiana, como nas demais cidades e regiões do país. Este resgate histórico português teve um impulso em 2007 com a inauguração da Quinta do Olivardo, uma vinícola com proprietários de origem portuguesa, que vem atraindo cada vez mais visitantes e turistas que apreciam a farta culinária com pratos portugueses servidos em seu restaurante. Na foto abaixo, a área de recepção da Quinta do Olivardo.

 

As origens portuguesas da cidade também estão sendo resgatadas por meio de um mini-museu, pelas festas, danças e eventos. E nos últimos anos com a realização de levantamento de antigos rótulos de vinhos da cidade que confirma essa origem com nomes e sobrenomes portugueses nas vinícolas da cidade – rótulos que In Vino Viajas está apresentando agora, com exclusividade. 

 

E mesmo que tenhamos saudades dos antigos rótulos dos vinhos de São Roque, o tempo não para. Com a instalação em 2013 do Curso Superior em Tecnologia em Viticultura e Enologia do Instituto Federal na cidade (o terceiro do país e único no Sudeste), este resgate histórico vai ser acompanhado também de tecnologia produtiva na área vitícola. 

 

Explico: durante as décadas áureas de 50 e 60 muitas vinícolas (mesmo com uvas americanas e não européias) produziam vinhos com características trazidas por vinhos portugueses como o Porto e Vinho Verde, e com a chegada dos italianos na região na época da IIa. Grande Guerra, estas características foram sendo substituídas e as origens vitivícolas forem se perdendo. Quem sabe agora os enólogos que aqui estão se formando consigam re-encontrar os traços de identidade da origem portuguesa dos vinhos de São Roque, sem ter que abrir mão dos vinhos com herança italiana que são sempre muito bem-vindos?

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Veja outra herança da vinicultura de Portugal no Brasil em – Fazenda dos Cayres, em São Bernardo do Campo: o elo perdido da vinicultura portuguesa no Brasil? – http://www.invinoviajas.com/2013/08/fazenda-dos-cayres-em-sao-bernardo-do/
 
(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas e Sandro Marcelo Cobello é consultor em Turismo Rural; contato-s e-mail smcbrazil@hotmail.com

 

 

2 Comentários


  1. Obrigado, Carlos Fioravante. Os vinhos de São Roque ainda sofrem preconceito, mas as vinícolas tem uma história de muito trabalho e estão investindo no caminho certo. Abs, Rogerio

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