Vinhedos, incêndios e as mudanças climatéricas.

Tempo de leitura: 4 minutos

Por Hugo Garcia, com edição de Rogerio Ruschel

O conhecido blogger português Hugo Garcia tem assistido – e sofrido muito – com os desastrosos incêndios rurais e florestais em Portugal (como o da foto acima) que destroem vidas, infra-estruturas, instalações de pecuária e agricultura, sobreiros de cortiça, oliveiras novas e centenárias e vinhedos. Pedi ao Hugo, editor do blogue PapaVinhos (http://papavinhos.blogspot.com/) que contasse aos os leitores do In Vino Viajas suas impressões sobre o assunto. Com a palavra, Hugo Garcia.

“Para alguns players internacionais com grande importância na politica internacional, as alterações climatéricas são uma grande fachada das organizações ambientalistas, mas a realidade contraria essa mesma posição. Assistimos a um descontrolo total do clima, chuvas em períodos de calor, sol intenso em período de chuvas, períodos longos de seca, grandes chuvas de granizo e vagas intensas de calor em 2/3 dias, entre outros fenómenos anómalos.

Todas estas alterações climatéricas afectam a economia mundial, sobretudo o mundo rural, que depende em muito da agricultura, um sector que depende da boa vontade de São Pedro. O sector vitivinícola faz parte deste mundo agrícola, que muito tem sofrido com as alterações climatéricas, tendo nos últimos anos assistido a graves prejuizos. Hoje em dia, deste o início da actividade na vinha, com o exercício da poda, ate à colheita da uva, sucedem-se demasiados fenómenos, quem num curto espaço de tempo, deita abaixo toda a dedicação e trabalho de meses do viticultor.

Do conjunto de fenómenos anteriormente referidos, podemos destacar a chuva intensa de granizo que ocorre no momento de floração da vinha, partindo e queimando os baby grapes (Portugal, Maio de 2018), passando pelas vagas de calor intenso que ocorrem em 2 e 3 dias, queimando facilmente toda a uva que existia na vinha (Portugal, Julho de 2017 e Agosto de 2018), e por último a onda de incêndios que queima as vinhas (Portugal Julho de 2017 e Califórnia em 2016, 2017 e 2018).

Nas regiões de Napa e Sonoma, na Califórnia, em 2017 além das perdas da vitivinicultura foram vitimados pelo menos 30 pessoas, 20.000 foram evacuados e 2.000 imóveis foram destruídos, incluindo 69.999 hectares de plantios diversos, entre os quais alguns dos mais valiosos vinhedos e vinícolas dos EUA. O incêndio de 2017 em Portugal, muito violento, matou pelo menos 62 pessoas e deixou 59 feridos em Pedrógão Grande, na região de Leiria, no centro de Portugal, e queimou florestas e vinhedos. No inicio de 2017 foi o Chile que sofreu, e segundo a Wines of Chile pelo menos 141 mil hectares de vitis vinifera foram afetados em todo o pais especialmente nos vales de Maule (foto abaixo), Maipo e Colchagua, pertencentes principalmente a  pequenos produtores em áreas próximas a colinas e florestas.

Umas das mais evidentes mudanças das condições climatéricas é a data da colheita das uvas que, segundo dados do Instituto francês de Pesquisa Agronômica (INRA) é realizada hoje entre 15 dias e 3 semanas mais cedo do que no início do anos 80. O mesmo vem se repetindo na Espanha. Em 2012 a Academia de Ciências dos Estados Unidos publicou um estudo sobre como as mudança climatéricas afetarão os vinhedos do mundo. De acordo com essa publicação, em 2050 vamos ver novas áreas de vinhedos, como norte da Alemanha, Polônia e Inglaterra e áreas como Toscana e mesmo Bordeaux, na França, deixarão de ser excelentes terroirs porque sofrerão com extremo calor e seca.

Devido a todos estes fenómenos o sector procura arduamente soluções que permitam minimizar os prejuízos. Na área de investigação laboratorial, é pretendido perceber que castas revelam maior capacidade para fazer fase ás vagas intensas de calor e às chuvas de granizo. Enquanto ao nível de tecnologia, assistimos ao desenvolvimento de tecnologia que permita prever estes fenómenos e deste modo, preparar a vinha para aguentar os fenómenos anómalos do clima.

O sector vitivinícola mundial enfrenta grandes desafios devido às alterações climatéricas e revela um trabalho árduo para fazer frente a isso, mas é apenas um caminho de adaptação ás alterações climatéricas. O caminho correcto, é global e depende de todos nós, para que o nosso planeta se refaça dos abusos da sociedade consumista.

Saiba mais sobre o vinho do futuro aqui: http://www.invinoviajas.com/2016/05/o-vinho-do-futuro-estudo-sobre-mudancas/

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