Os impactos do Réchauffement de la Planète – a versão francesa do Aquecimento Global – no mundo do vinho

Tempo de leitura: 5 minutos

Por Rogerio Ruschel (*)
A preocupação com o aquecimento global do planeta (o “Réchauffement de la Planète”em francês) em suas várias frentes também chegou ao mundo do vinho. A mudança da temperatura, do calor no solo, dos ventos e dos ciclos de chuva cria problemas e demanda soluções de técnicas agrícolas como a pesquisa por novas variedades de uvas e técnicas de cultura dos vinhedos (no cartum de Elizabeth Baddeley, do Willanette News, de Oregon, USA), como também no contexto da produção de vinhos mais “ecológicos”. É a sustentabilidade na cultura do vinho, procurando preservar na taça os aromas naturais da uva, identificados por degustadores e ilustrados neste poster abaixo.
A Organização Internacional do Vinho (OIV) define viticultura sustentável como sendo uma “Abordagem global para sistemas de produção e processamento de uvas, envolvendo tanto a continuidade econômica das estruturas e territórios, a obtenção de produtos de qualidade, os riscos relacionados com o ambiente, a segurança dos produtos e a saúde dos consumidores, e da avaliação do equilíbrio econômico, histórico, cultural, ecológico e cênico.” Ou seja, harmonia total, como se vê na foto abaixo. Na Espanha grandes produtores como Freixenet, Codorniú e Bodegas Regalia tem trabalhado com destaque neste assunto. 
Os franceses estão preocupados – ou pelo menos parece mesmo que estão. Uma das reações já é conhecida e está dando frutos no mercado: grupos espanhóis e franceses (ou de investidores globais com sede na Inglaterra, Estados Unidos ou paises árabes) vem adquirindo há mais de 15 anos grandes extensões de terras e propriedades no sul da América do Sul como na Patagonia Chilena e Argentina (veja abaixo) ou em outras fronteiras do novo mundo, por conta das macro-tendências climáticas. Conforme estudos científicos, com o aquecimento global estas regiões vão ficar cada vez quentes e mais interessantes como terroir para vinhedos de espécies adaptadas de vitis niviferas; em Mendoza, Argentina, a Merlot já tem personalidade própria.
Mas também trabalham na adaptação ao Réchauffement de la Planète (o Global Warming, Calentamiento Global ou Aquecimento Global em francês): um grupo reúne 23 laboratórios franceses num projeto batizado de Projet Laccave, para definir uma estratégia climática para a indústria. Os “laccavistas” trabalham com institutos de pesquisa para entender a evolução dos vinhedos diante do fenômeno e encontrar respostas para os viticultores, além de um conselho científico composto por especialistas da Europa, África e Américas, que também participa do trabalho. O objetivo é oferecer vinhos cada vez mais saudáveis para os consumidores no futuro – consumidores que hoje são ainda jovens e crianças com os quais já investe em programas de educação ambiental (veja fotos abaixo).
Em outra frente, a preocupação dos consumidores com a saúde também está provocando mudanças em termos de sustentabilidade. Em paralelo às pesquisas científicas o mercado vai ampliando a oferta por vinhos mais “ecológicos” por conta de noticias como esta que circulou em 2012 e sacudiu o mundo dos produtores: testes realizados com mais de 300 vinhos franceses descobriu que apenas 10% deles estavam limpos de quaisquer vestígios dos produtos químicos utilizados nos tratamentos dos vinhedos. E segundo consta, as vinícolas da Europa utilizam cerca de 30 mil produtos químicos diferentes, razão pela qual editoras publicam guias e estudos sobre produtos químicos e vinhos, como este abaixo da Vinatur.org.
Hoje você pode encontrar estes vinhos com apelos ecológicos em lojas ou restaurantes sem muita dificuldade – em outro post você vai ver isso em detalhes. Alguns são produzidos em vinhedos certificados como 100% ecológicos (ou próximo disso), outros não fazem nem mesmo a limpeza do “mato” (que na verdade não é “mato”) entre as mudas das videiras, como nesta foto abaixo, de um vinhedo espanhol.
Se você se preocupa com o meio ambiente, estes rótulos são uma boa alternativa de consumo, desde, é claro, que ofereçam o que se espera de um bom vinho: sabor e boa relação custo/benefício. Mas na verdade,  um vinho “saudável” deve oferecer mais do que isso, como sintetizado no rótulo abaixo, que mostra que o produto contém “cultura ancestral, emoções, trabalho de familias, um modo de vida diferente, sulfitos naturais”, etc e tal.
Esta tendência está crescendo mas ainda não chega a 10% da oferta global do produto porque é mais dificil e mais caro produzir vinhos sem a lógica da produção massiva que requer o uso de defensivos, pesticidas e produtos quimicos, e ainda dá mais trabalho. Mas existe um bônis: o modo “ecológico” permite obter-se uma produção de uvas com mais qualidade e cachos com uma melhor concentração de açucar (como estas “bonitonas” da foto abaixo) com as quais se pode fazer um vinho muito mais saudável.
Temos vinhos assim no mercado há mais de 30 anos e a produção de vinhos mais ecológicos vem crescendo om regularidade. São vinhos produzidos com Agricultura Racional, Cultura Biológica ou Orgânica, principios de Biodinâmica e vinhos Naturais.

Em outro post você vai saber como se caracterizam estes tipos de “vinhos ecológicos”, conhecer um pouco mais sobre a legislação e a classificação deste vinhos. Até lá, um brinde a quem respeita a natureza.

Saiba mais sobre a sustentabilidade dos vinhos do Alentejo, Portugal, aqui: http://www.invinoviajas.com/2016/06/conheca-o-plano-de-sustentabilidade-dos/
(*) Rogerio Ruschel é jornalista, enófilo e consultor especializado em sustentabilidade socioambiental.

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