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Por Rogerio Ruschel, jornalista brasileiro sobre cultura do vinho com mais leitores na Espanha
Prezados leitores ou leitoras, alô alô produtores brasileiros: as vinícolas europeias estão de olho MUITO grande no mercado brasileiro. Pressionadas pelas sobretaxas do presidente Trump (veja outro asrtigo aqui no In Vino Viajas) e com as perdas cumulativas que já vêm ocorrendo na indústria com as vendas e com a redução do consumo, as vinícolas europeias estão olhando para a América Latina e especialmente para o Brasil, como o Santo Graal da recuperação das vendas de vinhos. Eles querem derrubar a tarifa de 27% sobre os vinhos europeus existente no Brasil.
Mais do que isso, estão pressionando mesmo, afirmando até que se as negociações políticas forem demorar, os vinhateiros europeus vão buscar acordos similares em outros ambientes e fóruns. Eu já tinha publicado isso aqui no In Vino Viajas e até agora não vi nenhuma manifestação (de agrado ou desagrado) de produtores brasileiros. Veja abaixo o que foi publicado na revista digital Vinetur, da qual sou colunista há mais de 5 anos.
“A Federação Espanhola de Vinhos (FEV) e as associações europeias de vinícolas que integram o Comitê Europeu de Empresas Vitivinícolas (CEEV) solicitaram nesta quinta-feira, 26 de junho, que a Comissão Europeia adote o texto legal do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul sem mais delongas.
O objetivo é iniciar o processo de ratificação o mais breve possível e facilitar a entrada em vigor deste acordo, que consideram fundamental para o setor. O diretor-geral da FEV, José Luis Benítez, explicou que a atual conjuntura internacional está forçando as empresas a buscar novos mercados para garantir sua competitividade. Segundo Benítez, o acordo com o Mercosul pode abrir importantes oportunidades para o vinho espanhol, especialmente no Brasil, um país com grande potencial de consumo. Benítez destacou que a diversificação de mercados é uma ferramenta fundamental para o futuro do setor.
Por sua vez, Marzia Varvaglione, presidente da CEEV, destacou que o consumo de vinho nos mercados europeus tradicionais está em queda. Por isso, ela acredita que o acordo com o Mercosul pode ajudar as vinícolas europeias a alcançar novos consumidores e garantir sua sustentabilidade econômica nos próximos anos.
As associações vinícolas vêm apoiando este acordo há meses. Elas acreditam que ele melhorará o acesso ao mercado sul-americano, reduzindo tarifas e simplificando os procedimentos de importação. Além disso, o acordo inclui medidas para proteger as Indicações Geográficas Europeias, proporcionando uma garantia aos produtores. Ignacio Sánchez Recarte, Secretário-Geral da CEEV, observou que o Brasil aplica atualmente uma tarifa de 27% sobre os vinhos europeus. Esse imposto representa um obstáculo significativo às exportações e limita o crescimento das empresas do setor. Sánchez Recarte explicou que a eliminação dessa tarifa com o novo acordo facilitará a entrada de vinhos europeus no Brasil e em outros países do Mercosul. Ele também enfatizou que o acordo permitirá a criação de uma relação estável entre as duas regiões, baseada em princípios comuns em relação às indicações protegidas e práticas enológicas harmonizadas.
O cronograma previsto indica que a Comissão Europeia deverá aprovar formalmente o texto legal final antes do final de junho. O documento será então submetido ao Conselho e ao Parlamento Europeu para ratificação. Se os prazos previstos forem cumpridos, o acordo poderá entrar em vigor até ao final de 2026, após a conclusão de todo o processo legislativo. No entanto, existe a possibilidade de aplicar provisoriamente a componente comercial do acordo alguns meses após a sua aprovação pelo Conselho.
O setor vitivinícola europeu considera que este acordo não representa riscos para os produtores europeus e proporciona benefícios claros, tanto em termos económicos como estratégicos. As associações continuarão a defender a sua ratificação perante as instituições europeias para não perder esta oportunidade de crescimento e consolidação internacional.” Pois é, meus estimados leitores e leitoras: este posicionamento europeu contraria o raciocínio superficial, escorregadio e sem fundamento dos agricultores franceses que se opõem ao Acordo alegando o fim do mundo porque preferem continuar se apoiando em benesses do governo.
Veja como In Vino Viajas vem acompanhando a questão do acordo Mercosul e União Europeia:
- Em 2019 entrevistei a maior especialista em Indicações Geográficas de Portugal sobre nossas IGs competirem com as europeias – https://www.invinoviajas.com/o-brasil-tera-que/
- Em 2019 alertei para a necessidade dos vinicultores brasileiros se unirem e fazer marketing para enfrentar os europeus – não fizeram: https://www.invinoviajas.com/porque-fazer-marketing/
- Em 2020 denunciei que os brasileiros preferiam o lobby ao marketing para enfrentar os europeus: https://www.invinoviajas.com/os-vinhateiros-brasileiros-contra/
- Em 2020 foi feita uma promessa pelo presidente Bolsonaro aos produtores brasileiros que não cumprida o lobby falhou: https://www.invinoviajas.com/brasil-vai-investir/
- Em 2023 comparei o status de Indicações Grográficas dos europeus e do Brasil e constatamos qwue continuamos na mesma situação de muitos anos atrás: https://www.invinoviajas.com/uniao-europeia-tem-3-435-produtos/
- Em 2025 avisei sobre o olho grande anunciado dos europeus sobre nosso mercado: https://www.invinoviajas.com/sub-produto-das/
- Em 2025 reforcei o olho grande com uma entrevista exclusiva de diretora do mais antigo produtor europeu presente no Brasil, dono da marca Periquita: https://www.invinoviajas.com/herdeira-da-marca-periquita/