Enoturismo inteligente na Andaluzia, Espanha, propõe “paternidade responsável” de vinhas

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Por Rogerio Ruschel (*)
Em Montilla, uma comunidade da província de Córdoba, na Andaluzia, Espanha (entre Córdoba e Malaga, bem ao sul, veja no mapa abaixo), o enoturismo se transformou em uma atividade de – digamos assim – “paternidade responsável”. Explico.
A Bodegas Robles, uma empresa familiar que desde 1927 produz vinhos finos de mesa (DO Montilla-Moriles), vinhos reforçados, vinagres e outros produtos como geléias e sucos, decidiu, no final dos anos 90, ser 100% ecológica. Pratica o controle biológico de pragas apoiando o papel dos insetos no processo agrícola; adota a adubação da terra exclusivamente com cobertura vegetal utilizando plantas como papoulas, leguminosas e trebolinas, que tem raízes curtas e fixadoras de nitrogênio (imagem abaixo).
Na fermentação da uva utiliza leveduras autóctones que são da região e que estão fixadas na pele das uvas, de modo natural; e faz de tudo para respeitar o solo, o ambiente, as uvas e o produto final. Na foto abaixo dá para comparar o solo com cobertura vegetal ecológica (na metade inferior da foto, parece que tem “mato”) com uma área convencional de produção vinícola de um vizinho (parte superior da foto, bem “clean”).
Além de ser certificada pela Normativa Européia para Agricultura Ecológica, a Bodegas Robles foi o primeiro produtor vinícola espanhol a calcular suas emissões de GEEs (Gases de Efeito Estufa) que promovem o aquecimento do planeta. E já foi premiada como a melhor empresa ecológica da Espanha pelo Ministério do Meio Ambiente, em 2006.
Uma de suas marcas, o vinho Piedra Luenga Fino é um grande campeão em concursos de vinhos espanhóis; o Pedro Ximenez 1927 (do qual snao fabricados apenas 600 garrafas por ano) ganhou o “Gran Oro” no concurso Vinalies 2013 este ano em Paris, vencendo 3.425 rótulos.
Como a empresa diz numa frase muito feliz, a partir do momento em que decidiram ser 100% ecológicos, entenderam que mais do que do progresso, seriam partidários do regresso – isto é, passar a fazer atividades “antiquadas” mas com menos impacto ambiental. E para isso conta com a ajuda dos turistas. Além de vários programas educacionais, os enoturistas são convidados a adotarem uma vinha em seu ciclo de vida para acompanhar seu desenvolvimento ao longo do ano.
Trata-se do programa “Sigue tu cepa” (“Acompanha tua vinha”, em tradução livre) que transforma o turista em um padrinho (ou pai, ou mãe) de uma vinha ou parte do vinhedo. E como no vinhedo tudo é ecológico, trata-se de uma “paternidade responsável”… Mais do que uma promoção turística inteligente, é uma proposta educativa que merece aplauso, e que já chegou às redes sociais (veja abaixo).
Os turistas que tem a oportunidade de visitar os vinhedos em diferentes épocas do ano, realizam esta paternidade ao vivo, como se estivessem acompanhando o crescimento de um filho. Eles acompanham a hibernação do vinhedo no inverno, a poda, a seleção dos brotos, a brotação, a limpeza da área, a adubação ecológica, o amadurecimento das uvas (cepas tempranillo, verdejo e pedro ximenez) e o crescimento da vinha.
Até que em setembro chega o grande momento da vindima: centenas de turistas chegam aos vinhedos para a colheita das uvas e o preparo do mosto, numa verdadeira “invasão” de “pais de vinhas” como mostramos na foto acima. Além da parte agrícola, o turista pode participar do processo produtivo, a começar pela divertida brincadeira de amassar as uvas com os pés, que trasnsforma adultos em crianças (abaixo).
O turista também pode opinar sobre a produção de um vinho,  acompanhar a primeiras fermentação, degustar e até mesmo fazer seu próprio vinho com mosto da safra anterior, com seu nome e personalidade.
Este ano a vindima começou em 22 de setembro na região de Montilla-Moriles. Se no ano que vem você quiser passar o dia na vindima ajudando na colheita, acompanhando as tarefas agrícolas e industriais, degustando vinhos já prontos e saboreando um almoço familiar e ecológico, vai pagar 20 Euros.
No Facebook a empresa publica as fotos de um cacho de cada um dos vinhedos adotados por um “padrinho”, com o nome do padrinho. São centenas; abaixo, por exemplo, está um cacho de uva das videiras de um turista chamado Peter Liem. Fantástico, não?

In Vino Viajas recebeu o seguinte comentario de Francisco Robles, diretor da Bodega Robles: “En el proyecto “sigue tu cepa” es LA VID quien se convierte en madrina de las personas, es ella (la vid, que representa a la naturaleza) quien nos muestra a las personas cómo crecer, cómo evolucionar, cómo esforzarse ante las adversidades climatológicas y cómo se recogen los frutos al esfuerzo de todo el año a través de los racimos de uvas en la vendimia. Así podemos mostrar a nuestros seguidores que, nosostros (las personas), siempre debemos de aprender de la naturaleza, y no al contrario para de esta forma tener consciencia de la importancia que tiene mantener el medio ambiente.”

(*) Rogerio Ruschel é jornalista e adoraria ser um “pai responsável” de uma videira de Montilla, Espanha.

 

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