Tradições indígenas Xerente e Tupi com fibras têxteis geram Indicações Geográficas do Brasil

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Por Rogerio Ruschel

Prezado leitor ou leitora, o Brasil continua acelerando os registros de Indicações Geográficas e duas delas são lembradas aqui: a tradição da etnia Xerente, no Araguaia, que gerou o fabuloso Capim Dourado do Jalapão, reconhecido em 30/08/2011 e a bromélia da caatinga chamada croá, da palavra em Tupi kara wã, que significa talo com espinho, que gerou a Indicação Geográfica Fibra do Croá de Pindoguaba, um distrito de Tianguá, do Ceará em 14/10/2025. Saiba mais sobre elas.

Capim Dourado do Jalapão

A tradição do artesanato com o capim dourado, o “ouro do Jalapão”, foi passada pelos indígenas da etnia Xerente que no começo do século XX saíram caminhando pelo lado do Rio Araguaia e passaram pelo povoado quilombola Mumbuca, distrito de Mateiros, e ensinaram alguns moradores a “costurar capim” com a seda de buriti. Desde então, esse saber se difundiu pela região, onde tem sido passado de geração para geração. Os fios de capim dourado são costurados com a fibra fina das folhas de buriti, ambas espécies nativas do Brasil, próprias do cerrado. Dessa forma, as artesãs produzem grande diversidade de peças, como chapéus, cestos, vasos, bolsas, biojoias, abajures, luminárias e outros.

A partir desse saber-fazer, as comunidades têm criado novas coleções com inovações de produtos e inserção de novos materiais, como sementes, peças em coco, e novas técnicas também tradicionais, como o tingimento natural da linha da seda do buriti. Assim, as artesãs que antes produziam com a técnica do trançado das fibras do capim e do buriti objetos que estavam presentes em seu dia-a- dia, como os chapéus que protegiam os lavradores na roça, cestos, entre outros utensílios, agora produzem as mais variadas peças. Os finas hastes de ouro que pintam de dourado a paisagem do Jalapão, apesar do nome, capim-dourado, não são capim, mas uma sempre-viva, uma planta muito resistente que mesmo depois de colhida segue viçosa por muito tempo.

Mateiros encontra-se em meio à região ecoturística do Jalapão, abarcando a área do Parque Estadual do Jalapão. O Jalapão é um lugar cheio de encantos, chapadões e serras que compõem a paisagem de cerrado e savana, com gigantescas dunas costuradas por rios e cachoeiras. O nome, Jalapão, vem de uma planta abundante na região, a Jalapa, também conhecida como batata de purga.

Fibra do Croá de Pindoguaba

O caroá (nome cientifico: Neoglasiovia variegata), também conhecido como croá, gravatá, gravá, caruá, croatá, caraguatá e coroatá, é um tipo de bromélia de poucas folhas, com flores vermelhas ou rosadas. Seu nome vem da palavra em tupi kara wã, que significa talo com espinho. É uma planta resistente e típica das áreas de Caatinga. As folhas do caroá fornecem fibras resistentes utilizadas na confecção de barbantes, linhas de pesca, tecidos, cestos, esteiras e chapéus, além de outras peças artesanais e decorativas.

Nos anos de 1880, quando chegaram os primeiros moradores na comunidade de Palmeirinha (atual Pindoguaba), o croá, a época conhecido pelos populares como imbira já começava a ser trabalhado principalmente nas construções das casas de pau a pique (taipa de mão), substituindo o cipó nas amarrações das tramas de madeira para preenchimento com barro. Posteriormente, passou a ser usada para fazer cordas, cabrestos e peias (utilizada na técnica de piar o jumento, que consiste em prender paralelamente uma extremidade da corda em uma pata dianteira e a outra em uma traseira objetivando limitar seus movimentos) para animais, mantas, redes etc.

Entre os anos 1940 e 1970, o croá foi muito explorado, sendo instalada na cidade de Tianguá uma “mini indústria” denominada de fábrica do caroá, destino dos feixes de folhas de croá extraídos pelos populares e comercializados para indústria de beneficiamento. Com o aumento na demanda pela planta, eis que surge dona Maria Joana Silva, como uma das pioneiras na comercialização das cordas trançadas com a fibra oriunda do croá, passando a comprar a produção das pessoas da comunidade e vender nas feiras da região, principalmente em Tianguá e Viçosa do Ceará. Foi então, que nessa mesma época foi inventado o carretel, uma pequena máquina de produção artesanal que fazia com que a produção das cordas fossem mais rápida

Durante quarenta anos o croá foi a segunda maior fonte de renda da comunidade de Pindoguaba, perdendo apenas para a agricultura. Nos inícios dos anos 80, começa na comunidade a exploração de pedras, que eram usadas em calçamentos,(pavimentações), alicerces de casas, pontes e outros. Também surgem no mercado outros tipos de fibras ,fazendo com que a exploração do croá fosse diminuindo aos poucos,e posteriormente, deixando de ser trabalhado e ficando esquecido por muito tempo.

Em 2006, foi realizado na comunidade de Pindoguaba um trabalho de resgate da cultura do croá, através da secretaria de cultura do município, sebrae e associação comunitária, tendo como objetivo formar um grupo de pessoas para trabalhar novamente com o croá, mais com uma tipologia diferente, o artesanato. A partir de então começa uma jornada de reuniões e discussões sobre o assunto. Em 2025 o croá foi reconhecido como uma Indicação Geográfica.

 

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