Clos de Montmartre: o pequeno vinhedo Goutte D’Or de Paris

Tempo de leitura: 3 minutos

Por Rogerio Ruschel (*)
A França é o mais importante produtor de vinhos do mundo e a capital, Paris, não tem importância econômica para a atividade – mas já teve no passado. Até 1833 Paris era o maior território vinícola da Europa, com 40.000 hectares de parreiras plantadas; em 1474 chegou a existir uma DOC exclusiva, a apelação “Goutte d’Or” e durante o século XVIII Paris era o mais importante produtor de vinhos da França, passando Bordeaux.
Hoje resta muito pouco disso, mas para quem souber pesquisar vai encontrar pequenas áreas de produção vinícola na cidade. Uma delas é um terreno perto do quartel da 7ª companhia de bombeiros, La Caserne Blanche, perto da rue Pigalle, onde todos os meses de setembro os bombeiros fazem a colheita das 27 videiras e produzem cerca de 150 garrafas de vinho meia-boca que é vendido para fins de caridade.
Escadarias que levam a Montmartre
Mas o vignoble Clos de Montmartre é certamente o mais importante, por questões turísticas. Montmartre é um bairro boêmio de Paris, onde moraram pintores como Picasso, Modigliani, Toulouse-Lautrec, Renoir, Van Gogh e Gauguin e escritores como Balzac, Emile Zola, Boudelaire, Max Jacob e Apollinaire, para citar os mais conhecidos. E beber vinho em restaurantes e “bares-de-vinho” como os abaixo, é um hábito compartilhado por moradores e turistas.
Montmartre está para Paris, digamos assim, como a Vila Madalena está para São Paulo – e você vai ver outros posts sobre este bairro boêmio aqui no In Vino Viajas. No bairro os pintores vão para as ruas, como antigamente e como sempre o fizeram em Paris – veja abaixo.
O vinhedo Clos de Montmartre tem 1.556 m² e fica na esquina das ruas Saint Vincent e des Saules, perto da encantadora igreja Sacre Couer (abaixo). Por falar nisso, você vai encontrar em breve um post sobre esta igreja aqui no In Vino Viajas. Aliás, saiba que a palavra “Clos” denomina um vinhedo que é cercado por muros – sim, porque a maioria dos vinhedos não tem cercas ou divisórias, especialmente em Bordeaux.
A história deste pequeno vinhedo é curiosa: em 1933 a prefeitura de Paris decidiu acabar com a sujeira de um terreno baldio que tinha virado moradia de desocupados no 18o. arrondissement, plantando 2.000 pés de vinhas das variedades mais tradicionais da França, algo assim como uma espécie de vitrine da França; a placa abaixo complementa esta história.
Isso resolveu um problema urbano, mas a qualidade do vinho era ruim, até que em 1995 a prefeitura decidiu contratar um enólogo e investir na produção de um vinho de qualidade. Os equipamentos e o material de vinificação foram modernizados e atualmente os 1.762 pés de 27 castas diferentes de uvas (75% Gamay, 20% Pinot Noir e o resto Seibel, Merlot, Sauvignon blanc, Riesling, Gewurztraminer e outras) produzem cerca de 2.000 garrafas de 500ml cada. O terroir se mantém respeitado, como se pode ver nas foto de detalhe, abaixo.
Todo mes de setembro é feita a colheita, e realizada a festa da vindima – a Fête des Vendages – quando o vinho é vendido em leilão antecipado. O que sobra é engarrafado e as garrafas são vendidas entre 20 e 40 Euros dependendo da safra, como lembrança para turistas e ajudam a manter o vinhedo, que já não precisa do dinheiro da prefeitura.
O Clos de Montmartre tem até mesmo uma confraria exclusiva, a Comenda Clos de Montmartre, criada em 1983 e que conta com 200 associados e 60 simpatizantes. Provei o tal vinho (se equipara a um Cote-du-Rhone bonzinho) e tentei entrar no vinhedo mas não consegui. E não, não comprei uma garrafinhinha pega-turista do vinho boêmio de Paris – estava indo para Bordeaux e preferi apostar no melhor.
(*) Rogério Ruschel rogerio@ruscheleassociados.com.br – é jornalista e consultor especializado em sustentabilidade e foi Paris por conta dele mesmo.

 

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